Índice mostra que o aumento da escolaridade média da população ocupada mais que compensou a redução no total de horas efetivas trabalhadas no período
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou, nesta segunda-feira (14/6), um estudo com indicadores inéditos no Brasil sobre mercado de trabalho e produtividade. Um dos novos indicadores é o Índice de Qualidade do Trabalho (IQT), que combina dados de escolaridade e experiência da população ocupada. Nas últimas décadas houve aumentos significativos de escolaridade no Brasil. O estudo apontou que a mudança de composição na população ocupada contribuiu para o crescimento mais acelerado do indicador durante as fases de recessão, com crescimento de 2,7% a.a. entre 2014T1 até 2016T4 e 11,9% a.a. entre 2019T4 e 2020T2, contra um crescimento médio entre 0,90% e 1,5% a.a. nas fases de expansão econômica. Em períodos de crise há um aumento na proporção relativa de trabalhadores mais qualificados na PO, explicado pela maior perda líquida de empregos para os menos escolarizados e com menor grau de experiência. Sendo assim, o efeito composição gera um aumento da qualidade – em termos de capacidade produtiva – das horas efetivamente trabalhadas no período.
Pela primeira vez, pesquisadores brasileiros realizaram essa mensuração, que é utilizada para análise de conjuntura por órgãos institucionais internacionais como Federal Reserve Bank of San Francisco (nos Estados Unidos), Office for National Statistics (no Reino Unido), Australian Bureau of Statistics (na Austrália) e Eurostat (na União Europeia). Desta forma, a construção do novo indicador contribui também para analisar a evolução da economia brasileira no contexto internacional.
No estudo, foram utilizados dados da PNAD Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do segundo trimestre de 2012 (data de início da série) até o primeiro trimestre de 2021, uma vez que a pesquisa de abrangência nacional investiga de maneira permanente características gerais da população relacionada à educação. Os resultados mostram, entre outras coisas, um crescimento médio de 2,31% ao ano na qualidade da população ocupada no mercado de trabalho brasileiro no período citado.
No primeiro trimestre de 2021, o Índice Ajustado de Contribuição do Fator Trabalho (IACFT), indicador criado para ponderar o estoque de horas trabalhadas pela qualidade da composição da população ocupada em cada período, apresentou alta de 1,36% em relação ao trimestre anterior. Mas, na comparação com o primeiro trimestre de 2020, houve crescimento de 3,75% na contribuição efetiva do insumo trabalho (apesar da queda de 3,01% no fluxo de horas efetivamente trabalhadas), mostrando que a mudança na composição da população ocupada mais que compensou a redução no total de horas efetivas trabalhadas no período.
A nota avalia o impacto do ajuste pela qualidade da população ocupada sobre a produtividade total dos fatores (PTF) e a taxa de desocupação. As estimativas indicam que a PTF estimada da forma convencional (onde o fator trabalho é mensurado pelas horas efetivamente trabalhadas) superestima em 13,30 pontos percentuais (p.p.) o indicador no período analisado – quando comparado à PTF ajustada pela qualidade do trabalho.
“Quando se considera a mudança na composição por escolaridade e experiência das horas trabalhas pela população ocupada, observamos que a produtividade da economia caiu 0,4% na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo período do ano passado. Sem o ajuste pelo nosso indicador de qualidade, teria havido uma alta de 3,6% na produtividade, o que mostra a importância de se considerar o indicador nas análises”, explicou o diretor de Estudos e Política Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo Souza Júnior, um dos autores do estudo. Segundo ele, isso demonstra que a análise combinada dos fatores traz um resultado mais acurado, fazendo com que o novo índice contribua de maneira prática para a análise de conjuntura macroeconômica.
A taxa de desemprego calculada da forma convencional também apresenta uma superestimativa da ociosidade do fator trabalho – em termos de capacidade produtiva subtilizada – quando comparada à sua contraparte ajustada pela qualidade do trabalho. As evidências indicam que a taxa de desemprego convencional é, em média, 2,6 p.p. superior à taxa de subutilização da população economicamente ativa (PEA) ajustada pela qualidade do trabalho no período analisado. Esse viés apresenta uma tendência de alta em períodos de recessão econômica, existindo um incremento de 1,8 p.p. no período da crise entre 2014 e 2016 (a distância média alavancou-se de 1,6 p.p. para 3,4 p.p.) e de 1,0 p.p. em reflexo do impacto da Covid-19 em 2020 (a distância média foi incrementada de 2,8 p.p. para 3,8 p.p.).
Os pesquisadores concluíram que houve uma melhora expressiva na composição da população ocupada neste período. O incremento no índice é reflexo dos avanços no nível de escolaridade média da População em Idade Ativa (PIA). O estudo mostrou que movimentos cíclicos afetam o ritmo de aumento da qualidade média da população ocupada, com redução maior no total de horas trabalhadas por trabalhadores menos qualificados em períodos de crise econômica, em especial em decorrência da pandemia do Covid-19.