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No início do século passado, ficou célebre o estilo diplomático do presidente Theodore Roosevelt Jr., que governou os Estados Unidos entre 1901 e 1909. Sua abordagem, conhecida como “Big Stick” (“Grande Porrete”), era uma extensão da Doutrina Monroe, do século XIX, e baseava-se na máxima: “fale com suavidade e tenha sempre um grande porrete à mão”.
A ideia era simples: manter um tom diplomático, mas deixar claro que o poder de retaliação estava sempre disponível, caso necessário. Curiosamente, Roosevelt assumiu a presidência em 1901, logo após o assassinato de William McKinley, presidente de quem Donald Trump se declara grande admirador. Tanto que, em seu segundo mandato, Trump nomeou uma montanha em homenagem a McKinley, reforçando essa conexão simbólica. Agora, parece que Trump decidiu resgatar a ideia do “Grande Porrete”, mas sem a parte do “fale com suavidade”.
Os mercados globais iniciam a semana repercutindo o aumento das tarifas impostas pelos EUA: 25% sobre importações do México e do Canadá, e 10% sobre produtos chineses. Essas medidas pressionam os rendimentos dos Treasuries para cima, fortalecem o dólar no cenário internacional e derrubam as ações, refletindo um ambiente de maior aversão ao risco. Ou seja, após um início de segundo mandato com tom aparentemente menos agressivo, Trump mudou de postura e adotou um discurso mais duro, para além da retórica, e essa escalada não deve parar por aqui. A União Europeia já aparece como um dos próximos alvos.
Para complicar ainda mais, os mercados globais retomam sua liquidez total com a reabertura das bolsas asiáticas após o Ano Novo Lunar. Além disso, a semana será marcada pela divulgação dos dados de empregos nos EUA, um indicador que pode impactar diretamente as expectativas para a trajetória dos juros americanos. Por fim, a temporada de resultados segue movimentada, com grandes nomes como Alphabet e Amazon divulgando seus resultados nos próximos dias – mais um fator que promete influenciar o comportamento dos mercados nesta semana já carregada de incertezas.
· 00:52 — Novas perspectivas? Não teria tanta certeza…
No Brasil, a temporada de resultados corporativos terá início nesta semana, com os primeiros grandes bancos divulgando seus números. Na quarta-feira (5), será a vez de Itaú (ITUB4) e Santander (SANB11), seguidos pelo Bradesco (BBDC4) na sexta-feira (7). Antes disso, ainda hoje (3), o mercado acompanha o relatório de produção e vendas da Petrobras (PETR4), especialmente após o reajuste no preço do diesel anunciado na última sexta-feira.
Outro evento de destaque é a ata do Copom, que será divulgada amanhã (4) e fornecerá detalhes sobre a decisão do Banco Central de elevar a Selic em 100 pontos-base na última reunião. Um ponto que tem ganhado tração entre os analistas é a possibilidade de que o ciclo de aperto monetário termine ainda no primeiro semestre de 2025. Isso porque, apesar da inflação elevada, o BC citou a desaceleração da atividade econômica e evitou um guidance mais explícito sobre novas altas.
De fato, os dados econômicos divulgados na semana passada reforçam os sinais de fragilidade no crescimento, algo que pode impactar a popularidade do governo nos próximos meses. Ainda assim, a mais recente pesquisa Genial indica que Lula continua à frente de seus concorrentes. No entanto, há tempo até as eleições de 2026, e o presidente não está imune a um efeito semelhante ao de Joe Biden, podendo sofrer desgaste contínuo ao longo do tempo (mais inflação e menor crescimento).
Apesar desse cenário, o maior trunfo do governo até o momento é a fragmentação da oposição. A ausência de um nome forte e unificado dificulta a construção de uma candidatura competitiva para o próximo ciclo eleitoral. A tese de pêndulo político em 2026 ainda se mantém, mas tudo dependerá da capacidade da oposição de se organizar e apresentar um candidato sóbrio, robusto (não-amalucado), pró-mercado e fiscalmente responsável. Caso contrário, o governo tende a se fortalecer naturalmente.
E por falar em política, Lula recebe hoje em Brasília os novos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, respectivamente. Esse encontro pode ser crucial para definir como a articulação política do governo se alinhará à reforma ministerial e às pautas econômicas da Fazenda. O desenrolar dessas negociações será determinante para a agenda do governo nos próximos meses.
· 01:48 — Primeiro impacto
Nos Estados Unidos, o mercado acionário parecia encaminhado para encerrar a sexta-feira em alta e registrar a terceira semana consecutiva de ganhos, até que um dos temas mais temidos pelos investidores interrompeu o rali: tarifas comerciais. No meio da tarde, a Casa Branca desmentiu rumores sobre um possível adiamento e confirmou que uma tarifa de 25% será aplicada a produtos do México e do Canadá a partir de amanhã, enquanto a China enfrentará uma tarifa de 10%. A confirmação veio no domingo, reforçando o tom protecionista do governo Trump.
Com isso, a aversão ao risco, que já havia surgido no final da semana passada, retorna com força no início desta semana. O tom agressivo da política comercial dos EUA reacende o temor de uma possível aceleração inflacionária, tornando o cenário ainda mais desafiador para o Federal Reserve, que pode ser forçado a manter os juros inalterados por mais tempo enquanto monitora os efeitos iniciais das novas tarifas sobre a economia. Esse ambiente contribui para a valorização do dólar no curto prazo, enquanto o mercado de ações enfrenta pressão negativa diante da incerteza crescente.
Na agenda econômica, o destaque da semana será a divulgação dos dados de emprego de janeiro, com o payroll previsto para sexta-feira. Além disso, a temporada de resultados corporativos continua movimentada, com grandes empresas reportando seus balanços nos próximos dias. Entre elas, estão nomes de peso como Palantir, Tyson Foods, Advanced Micro Devices (AMD), Alphabet, Chipotle, PayPal, PepsiCo, Pfizer, Spotify, Arm Holdings, Ford Motor, Novo Nordisk, Uber, Walt Disney, Amazon e Eli Lilly. Esse conjunto de eventos e dados promete manter os mercados voláteis, enquanto investidores tentam calibrar suas expectativas em meio ao aumento das tensões comerciais e ao cenário de juros elevados.
· 02:34 — Um novo capítulo da guerra comercial e um pouco mais…
Donald Trump segue firme com sua estratégia tarifária, aplicando um golpe inicial na nova disputa comercial. O presidente anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre a maioria dos produtos importados do Canadá e do México e de 10% sobre importações da China e do setor energético canadense, com vigência a partir de terça-feira (4).
Os países afetados já preparam suas respostas. O governo do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau delineou um plano de retaliação em duas fases, enquanto a presidente mexicana Claudia Sheinbaum deve revelar medidas específicas na segunda-feira. Já a China sinalizou que pretende levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), buscando uma resposta legal à ofensiva americana.
Os impactos econômicos dessa nova rodada de tarifas são significativos, considerando que os países atingidos somam US$ 1,6 trilhão em comércio bilateral com os EUA. O petróleo bruto é o principal produto importado dos EUA do Canadá, representando 60% do total de importações de petróleo do país. A dependência é ainda mais acentuada nos estados do Centro-Oeste, onde os preços dos combustíveis podem subir devido às novas taxas — Trump já considera reduzir a tarifa sobre o petróleo canadense de 25% para 10%, buscando minimizar os impactos sobre o consumidor americano.
Além do setor energético, a indústria automobilística também será fortemente impactada. México e Canadá são os dois principais fornecedores de veículos e peças para os EUA, respondendo por quase 50% das importações de automóveis americanos em 2023. As cadeias de produção desses veículos são integradas, com peças cruzando as fronteiras várias vezes antes do produto final ser concluído. Com as novas tarifas, o custo da produção deve aumentar, pressionando montadoras e consumidores.
O setor agroalimentar também sentirá os efeitos. Em 2023, os EUA importaram US$ 38,5 bilhões em produtos agrícolas do México, incluindo 90% dos abacates consumidos no país. Além disso, os americanos compraram US$ 26 bilhões em bebidas alcoólicas do México em 2022. Com a aplicação das tarifas, os preços desses produtos devem subir consideravelmente, pesando sobre o bolso do consumidor.
No pior cenário, o impacto econômico pode atingir cerca de US$ 835 por pessoa, adicionando pressões inflacionárias à economia americana. Com um cenário já desafiador para o Federal Reserve, essa escalada protecionista pode complicar ainda mais a trajetória dos juros e aprofundar as incertezas econômicas nos próximos meses.
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· 03:27 — E as coisas estavam indo relativamente bem
Para muitas economias desenvolvidas, 2024 foi um ano relativamente positivo. A inflação seguiu em trajetória de desaceleração, ainda que de forma gradual, e os níveis de desemprego permaneceram baixos. O consumo das famílias continuou sendo um pilar essencial para o crescimento econômico, impulsionado, em grande parte, pelo aumento dos gastos com lazer e experiências.
Nos Estados Unidos, os dados do PIB divulgados na semana passada evidenciam essa tendência. Desde o início de 2021, os gastos dos consumidores com entretenimento e lazer aumentaram significativamente em relação aos gastos com bens duráveis. No início do ano o consumo voltado para o setor de lazer era 1,9 vezes superior ao de bens duráveis. No final de 2024, essa proporção subiu para 2,4 vezes, demonstrando a crescente preferência dos consumidores por experiências em detrimento de bens físicos.
Essa mudança de comportamento também se reflete na Europa, onde uma divisão econômica entre o norte e o sul tem ficado mais evidente. A Espanha, por exemplo, registrou um desempenho econômico superior ao da Alemanha – e até mesmo ao dos Estados Unidos – nos últimos três anos. O setor de lazer e turismo tem sido um vetor importante para essa dinâmica, ajudando a sustentar o crescimento espanhol. Embora seja improvável que o setor continue impulsionando a economia indefinidamente, não há sinais evidentes de desaceleração no curto prazo.
Fatores estruturais sustentam essa tendência. A evolução das práticas de trabalho, com modelos mais flexíveis, tem incentivado maior socialização e gastos em experiências. Além disso, as mídias sociais desempenham um papel crucial, amplificando a visibilidade e o desejo por experiências “compartilháveis”, o que reforça essa mudança de hábitos de consumo.
Outro fator importante é a dificuldade crescente para os jovens acessarem o mercado imobiliário. Com preços elevados e crédito restrito, muitos jovens estão optando por priorizar o lazer em vez de seguir a trajetória tradicional de poupar para a compra de uma casa. Em vez de direcionar recursos para entrada de um imóvel, mobília e eletrodomésticos, essa nova geração tem escolhido gastar mais em viagens, entretenimento e experiências, consolidando um padrão de consumo que, por ora, parece longe de perder força.
· 04:14 — E a japonização?
A Oxford Economics repetiu um estudo conduzido em 2019, no qual avaliava o risco de “japonificação”, um fenômeno econômico caracterizado por um longo período de baixo crescimento, inflação persistentemente baixa ou até mesmo deflação. O novo exercício revelou que, atualmente, as probabilidades desse cenário se concretizar são ainda maiores na China e em diversas outras economias asiáticas, enquanto a Europa apresenta dinâmicas divergentes.
Entre os países europeus, a Alemanha se destaca como uma das economias mais vulneráveis a esse fenômeno. Já na China, a convergência de fatores como deterioração demográfica, inflação persistentemente baixa e uma desaceleração associada a problemas nos balanços patrimoniais cria semelhanças preocupantes com o Japão do final dos anos 1990. A fragilidade dos mercados de ações e do setor imobiliário chinês reforça essa analogia, sinalizando um ambiente econômico cada vez mais desafiador para o país nos próximos anos.
· 05:07 — Se preparando para a temporada
A semana marca o início da temporada de resultados no Brasil, e, assim como nos Estados Unidos, os primeiros balanços a serem divulgados são os dos grandes bancos. Na quarta-feira (5), será a vez de Santander e Itaú apresentarem seus números. Entre os dois, o Itaú merece destaque, pois segue como uma das minhas principais recomendações no mercado local…