Brasileira que vive em província vizinha a Hubei, epicentro do surto de novo coronavírus, diz temer que população entre em pânico com eventual colapso de serviços básicos. Ela considera, contudo, que há exagero da mídia.
A cidade de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus, fica a cerca de 800 km de Xian, onde vive brasileira
Na China desde agosto do ano passado, a brasileira Luana Borges relatou à DW Brasil sua rotina após a eclosão do surto de um novo coronavírus no país. Natural de Florianópolis, ela é professora de inglês em Xian, cidade com 12 milhões de habitantes, na província de Shaanxi, vizinha a Hubei, epicentro do surto. O vírus já infectou quase 6 mil pessoas e matou 132.
Segundo Luana, há restrições para deixar a cidade: os serviços de ônibus e metrô para o aeroporto foram cortados, e a frota de Uber não está mais circulando. Para entrar em Xian, os carros são esterilizados, e os ocupantes têm a temperatura medida, conta.
Para Borges, o maior temor é que a população entre em pânico com o eventual colapso de serviços básicos, como eletricidade e água, já que o governo deu diretrizes para que as pessoas evitem sair de casa. Escolas e praticamente todo o comércio está fechado.
"O que está aberto é farmácia e loja de conveniência. Ainda tem um pouco de gente andando nas ruas, mas está deserto comparado ao que é normalmente", diz. "Saí dois dias atrás para ir a um mercado tipo atacado, e já havia prateleiras vazias."
Segundo ela, o uso de máscara também se tornou comum mesmo em ambientes fechados, o que não era habitual antes. "Em geral, as pessoas aqui, especialmente os estrangeiros, usam máscara para se proteger da poluição, mas agora todos estão usando, mesmo em ambientes fechados", relata.
A recomendação para usar máscara em ambientes com aglomeração de pessoas veio do próprio governo, o que provocou uma corrida às lojas e esgotamento dos estoques. Outra diretriz foi que todas as escolas tivessem as aulas canceladas, e o feriado do Ano Novo Lunar, que iria até o dia 30 de janeiro, foi estendido até 2 de fevereiro. "Sei que creches, jardins e escolas de ensino infantil vão voltar só depois de 20 de fevereiro", conta a brasileira.
Borges diz ver um exagero da mídia ocidental na cobertura do surto. "Está muito complicado definir o que é fake news e o que é dado concreto, porque é muito fácil colocar sensacionalismo no jornal. Eu acho que tem algum exagero. O governo [da China] está tomando medidas mais drásticas justamente para conter o vírus e tentar entender um pouco mais a respeito", diz.
O novo coronavírus foi batizado provisoriamente de 2019-nCoV pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O primeiro alerta para a doença foi emitido pela OMS em 31 de dezembro de 2019, após autoridades chinesas notificarem casos de uma misteriosa pneumonia na cidade de Wuhan.
Já foi confirmado que o novo coronavírus pode ser transmitido entre humanos, antes mesmo de aparecerem os sintomas, que, em muitos casos, são parecidos com os de uma gripe, como febre, cansaço e dificuldade para respirar.
A grande maioria dos infectados ainda se concentra em Wuhan. Por isso, a cidade está construindo um novo hospital, com mil leitos, especialmente para tratar infectados pela doença. Ele deve começar a funcionar já no começo de fevereiro. Wuhan e outras cidades em Hubei estão em quarentena. Na província de Shaanxi, mais de 40 casos do vírus foram confirmados.