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"Nova história do Partido Comunista da China visa fortalecer ideologia"

Como parte das comemorações pelos 100 anos da criação do PCCh, o Comitê Central de Pequim lançou mais uma "breve história" do partido. Sinólogo alemão analisa conteúdo e finalidade do novo compêndio comunista.
Capa do livro Uma breve história do Partido Comunista da China

Apesar do título "Uma breve história do Partido Comunista da China" tem mais de 500 páginas

De uma "panelinha" de conspiradores, reunida em julho de 1921 (a data exata não é conhecida) para o primeiro congresso do Partido Comunista da China (PCCh), resultou hoje, 100 anos depois, a maior sigla política do mundo, com 90 milhões de membros, governando a segunda maior economia existente.

O PCCh sobreviveu não só a campanha de extermínio anticomunista das tropas do Partido Nacionalista, sob o comando de Chiang Kai-shek, e a de conquista dos japoneses, na Segunda Guerra Mundial, como saiu fortalecido de ambas. Nesse sentido, a versão oficial da trajetória do partido, em forma de epopeia heroica, se baseia de fato em acontecimentos históricos, no que se refere ao período até a fundação da República Popular da China, em 1949.

Mais difíceis de integrar numa narrativa de sucesso ininterrupto, por sua vez, são as catastróficas decisões e mudanças de curso posteriores, como a tentativa de uma industrialização forçada ("O Grande Salto Adiante") ou a Grande Revolução Cultural Proletária.

Por ocasião do centenário da fundação da legenda, o departamento de propaganda do Comitê Central do PCCh acaba de lançar Uma breve história do Partido Comunista da China. Apesar do "breve" no título, em sua versão impressa a obra ostenta mais de 500 páginas.

Felix Wemheuer é catedrático Estudos da China Moderna na Universidade de Colônia, Alemanha. A DW conversou com o sinólogo sobre o que consta desse novo compêndio ideológico da República Popular – e o que não consta.

Exposição na Casa do Partido Comunista da China, em Xangai

Casa do Partido Comunista da China, em Xangai: parte da educação da população

DW: Qual é o público-alvo da nova história oficial do Partido Comunista da China, de que forma ela é comunicada?

Felix Wemheuer: A historiografia partidária representa, tradicionalmente, um papel muito importante na China. Também Mao Tsé-tung já utilizava a história da sigla para "unificar os pensamentos". Portanto, quem deve absorver a atual interpretação são, por um lado, os quadros partidários, e por outro os candidatos a uma filiação. A Breve história do Partido Comunista da China deverá também ser objeto dos exames centrais para ingresso nas escolas superiores. Assim, milhões de chineses terão que aprender perguntas e respostas padronizadas, com base no livro.

E, claro, o que está nesse compêndio também será comunicado de outras maneiras ao povo, sendo as crianças e adolescentes um importante foco de atenção. Ao que tudo indica, o Partido concluiu que a educação ideológica dos nascidos nos anos 80 e 90 não funcionou muito bem, e que esse grupo é excessivamente influenciado por ideias individualistas ocidentais. Agora se procura evitar tal "erro" e tentar convencer justamente os muito jovens da ideologia partidária, dando ao nacionalismo um papel muito central.

Com esse fim, excursões escolares a museus da Revolução, ou uma série de animação, servem também para comunicar esses conteúdos a um público mais amplo. Além disso, definem-se interpretações vinculativas, a que as produções culturais, como filmes ou séries, devem se ater.

Qual é a mensagem central da nova história do PCCh?

Em resumo, a mensagem é: mesmo que tenha havido crises, problemas e equívocos na história do Partido, ele sempre conseguiu se reerguer e guiar a China pelo caminho da prosperidade e do reconhecimento internacional, assim como adaptar o marxismo-leninismo e as ideias maoístas às exigências de cada época. E é muito importante acentuar a continuidade, desde a fundação, em 1921, até hoje, sob a liderança de Xi Jinping, com que o livro termina, e sob a qual o sonho chinês deverá se concretizar.

China Kulurrevolution Rote Garde

Novo compêndio histórico evita se aprofundar nas consequências catastróficas da Revolução Cultural de Mao

O que é novo ou diferente na nova história partidária?

A história do PCCh sempre foi construída de forma que os revertérios também se encaixem no quadro, já que sempre foi o Partido, e só pode ser ele, a corrigir tais anomalias. Em comparação a compêndios anteriores, chama a atenção o fato de as partes sobre a Revolução Cultural e o "Grande Salto Adiante" serem agora consideravelmente mais curtas, não lhes sendo mais dedicados capítulos próprios. Segundo a interpretação oficial, afinal, esses foram os dois grandes erros de Mao e do Partido.

Em relação ao "Grande Salto Adiante", só se fala de "dificuldades econômicas", enquanto no compêndio dos 90 anos da fundação do partido ainda se empregavam palavras como "fome" e "vítimas da fome". Quer dizer: a apresentação desses reveses e anomalias foi ainda mais abrandada.

Que papel representa, na nova história do Partido Comunista, a repressão sangrenta do movimento democrático na Praça da Paz Celestial, em 1989?

Ela é tratada bem rapidamente, e sem maiores diferenciações em relação à interpretação de 1989, segundo a qual se tratou de um levante contrarrevolucionário com a intenção de eliminar o sistema socialista, o qual teve que ser esmagado pelo governo.

Por se falar em revolução: independente do atual sistema econômico chinês, que em numerosos aspectos é capitalista, a liderança partidária se aferra a sua tradição revolucionária. É também nesse sentido que se trava a "luta cotra o niilismo histórico". O que está por trás disso?

Essa é uma campanha que já corre há diversos anos. Atacam-se como "niilismo histórico" posicionamentos que negam as conquistas do Partido e da Revolução, enfatizando de forma supostamente excessiva os acontecimentos negativos. Na mira está sobretudo a assim chamada "despedida da Revolução", ou seja, a noção de certos historiadores de que a ideia de querer mudar tudo através da revolução colocou a China no caminho da instabilidade e do caos, desde o início do século 20. Faz parte também da campanha a lei que penaliza a "difamação dos mártires revolucionários".

No contexto dessa campanha, costuma-se traçar paralelos com a União Soviética, [Mikhail] Gorbatchov é criticado por, no fim dos anos 80, ter permitido debates em que a Revolução de Outubro, Lenin, Stalin, o Partido, em princípio tudo, podia ser colocado em questão. Com esse "niilismo histórico", Gorbatchov teria solapado a base de legitimação da União Soviética.

E justamente isso não deve ocorrer na China. Nesse sentido, também se endurecem as medidas de censura, por exemplo conclamando a denunciar "opiniões niilistas" na internet e apagando postagens com esse tipo de conteúdo.

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Que papel desempenha Xi Jinping na nova história do Partido?

Um papel de bastante destaque. Naturalmente também são mencionados os méritos dos antecessores, também no desenvolvimento da ideologia e sua adaptação às especificidades chinesas. Assim, há as "ideias de Mao Tsé-tung", a "teoria de Deng Xiaoping", a "Tríplice Representatividade" de Jiang Zemin, o "conceito de desenvolvimento científico" de Hu Jintao. Como corolário final, vêm então as "ideias de Xi Jinping para a nova era", com o "sonho chinês" como ponto crucial, ou seja, a meta de, até 2049, transformar a China em país industrial inteiramente desenvolvido e potência mundial.

Chama atenção que a parte de Xi Jinping abarque a cerca de um quarto de todo o livro, embora ele só esteja no poder há oito anos, em 100 anos de história partidária. Resulta uma impressão muito forte de que ele esteja sendo apresentado como o mais importante líder do Partido Comunista da China.

Qual é a razão dessa fixação em Ji Xinping?

Um motivo é, certamente, o medo de conflitos de interesse e brigas de facções. Estas últimas já levaram à beira do abismo, por duas vezes na história do Partido: uma na Revolução Cultural, e outra em 1989. E a questão é evitar, a qualquer custo, que lutas intrapartidárias, talvez ainda em conexão com conflitos na população, possam desencadear esse efeito explosivo. E um líder forte pode evitar isso – essa parece ser a concepção dominante no PCCh. No entanto, mesmo um líder carismático como Mao não conseguiu, na época, pacificar e dar fim às brigas entre as facções.

Fonte ; DW

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